quarta-feira, 29 de maio de 2013

A dor de um velho menino


Ele era assim, deste 'tamaninho'. As pernas eram de socó, os bracinhos finos de dar dó. Menino descalço vestindo meio trapo, barrigudinho calado na beira do córrego mirando sapo. Quando a noite gemia, ele tremia muito. E quando o sol fazia que ia começar o dia, ele quase que sentia alguma alegria.

Ele vinha de uma roça que já não tinha mais roçado, de uma natureza fingida que descoloria qualquer traçado. A fantasia era contada, quase na madrugada quando a lua cheia 'lumiava' os pensamentos, que era para brotar melhor as mentiras. Porque de verdade, de verdade mesmo ele não tinha nem a vida, já tão desdita. E assim cresceu, seguindo a profecia.

- Sai pra lá, seu moribundo! - Reclamou a mosca varejeira bem no pé do ouvido do Seu Josefino. O menino que se tornou um homem nada distinto, do canavial fez seu destino: da plantação ao alcoolismo. Ele tinha uma dor tão grande, que de tão sofrida não era nem vista, por ninguém jamais foi conhecida, menos ainda sentida.

Naquela região de nascido, ele foi sem dúvida o homem mais temido... Sim, Seu Josefino. Com sua dor ele ameaçava a todos desde menino, de tal maneira que não teve corajoso sequer que ousou conhecer as amarguras de seus desígnios. E era assim temido porque sofria feito bicho. E sabe porque assim tem sido? Porque tem dor que mais faz doer no observador e ninguém queria padecer mais que aquele sofredor.

De tão velho, ele nunca deixou de ser menino... ele era assim: lindo e sozinho!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

DE PONTA CABEÇA’

Neste mundo de transformação e algumas inversões eu observo.

Percebo que a distância não fragiliza as relações, talvez porque os meios atuais de comunicação nos permitem a aproximação virtual e contatos mais constantes. Contudo, não suprem carências!

Percebo que muitos jovens com menos de 30 estão se comportando como verdadeiros adultos, talvez porque muitos adultos com mais de 60 se comportem como verdadeiras crianças. Contudo, não se complementam!

Percebo que os avós de hoje relutam em aprender a grande diferença entre participar e interferir, talvez porque os pais de outrora não souberam se preparar para a longevidade dos tempos modernos. Contudo, não preenchem a ociosidade!

Percebo que permanecem as perseguições àqueles que apresentam na vida distintos talentos, talvez porque não aprenderam o lindo gesto em admirar alheias conquistas e a humildade para aprender com aqueles em condição de ensinar. Contudo, não superam a baixo autoestima!

Percebo que a constante e tão bem conhecida falta de tempo promove os estágios de extremo cansaço físico e estresse depressivo, talvez porque o materialismo tão perseguido não substituiu as necessidades das trocas emocionais mais banais. Contudo, não se compra um filho!

E percebo, também, que os amigos passaram a ser considerados integrantes da família, talvez porque este seja o verdadeiro significado de uma irmandade. Aqui sim se compreende, também, o amor!

sábado, 9 de abril de 2011

LIBERTAÇÃO DE UMA NÃO-SÚDITA (de um reino nada distante)

Oh, Imperiosas Majestades, onde se encontram vossos súditos?
Oh, Poderosos Senhores de Engenho, onde se encontram vossos escravos?
Oh, Grandioso Mito Narciso, onde se encontra vossa imagem refletida no espelho d'água?

Atirai sobre a ponte a vossa coroa de egoísmo... Jogai ao fogo suas produções escravistas... Arremessai uma pedra na imagem da impiedade que reflete o seu espírito.

Não me importa quão majestosos se sentem; o que me importa é que não reconheço em mim nenhuma súdita.
Não me importa quão senhores de engenho se achem; o que me importa é que não reconheço em mim nenhuma escrava.
Não me importa quão doente do narcisismo possam ser; o que me importa é que não reconheço em mim teu espelho d´água.

Ouça-me: Não há mais lugar para a dominação exarcebada, para a vaidade sem tamanho, tampouco para o egoísmo doentio.

É chegado o tempo, ao exemplo do Império Romano, da 'queda' das dominações sobre vidas alheias. Deixe desabar os tijolos de erros contido em suas construções separatistas, tal qual a queda do Muro de Berlim. O mundo grita a chegada de uma nova era, um tempo chamado de Regeneração. Ecoa em mim a gloriosa conquista das massas.

O Egito de outrora vivenciou a libertação do povo israelita, em meio a perseguições faraônicas e sob a proteção personificada em Moisés. O Egito de hoje vivencia sua própria libertação política, sem uma frente de liderança específica, pois já não é mais tempo para 'personificações' fazerem histórias. O povo se tornou a história!

Será preciso olhos para ver? Terapeutização é o novo processo para os que continuam doentes imersos em seus sucessivos enganos, adornados do falso poder; assim como para os traumatizados remanescentes que ressurgirão das cinzas tal qual a fênix. A libertação lutada por tantos líderes relevantes na história está deixando de ser uma ideologia e passa a ser a tão sonhada realidade. As profecias começam a se concretizar. Desesperam-se os que sofrem do apego materialista e os dominadores das mentes antes submissas.

Do que falo? Apocalipse now?

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

(Anti) diário da espera pela Estela

Em um ano indescritivelmente precioso, de muito aprendizado, crescimento, amizades e conquistas! Um ano generoso, embora com o incorruptível tempo de sempre, cruelmente veloz nos momentos felizes. Foi assim que vi passar - voando - a minha gravidez, de forma que escrevo como um anti-diário da espera pela Estela.

Eu me ensurdeci aos dizeres do mundo para desenvolver a ‘auto-audiência’ e vivenciar as experiências com a unicidade que lhes são próprias. Intimamente descobri, na individualidade deste processo, uma necessidade inquestionável de me libertar dos conceitos taxativos para gozar do deslumbramento interior.

Disseram que eu iria enjoar e isto eu nunca experimentei... disseram que iria rejeitar o meu marido e eu mais me apaixonei... disseram que eu iria viver uma eterna TPM e estado de maior equilíbrio eu jamais encontrei... disseram que seria tomada pela ansiedade e melhor relação com a espera eu jamais vivenciei... disseram que teria desejos sinistros e da boa e simples alimentação eu me fartei... disseram que me encheria de estrias e nenhuma novata eu notei... disseram que engordaria horrores e menos de nove quilos acumulei... disseram que iria cansar à exaustão e às noites todas de sono com a Estela eu me entreguei!

No auge da minha pretensão de grávida atingida por diversos complexos, dentre eles o da superioridade (hehehehe), sinto-me em condição de dizer que se existe um segredo ele deve estar, indubitavelmente, agregado ao nosso ESTADO DE ESPÍRITO. Aliado a isso não sei como agradecer ao meu marido, minha família e meus amigos por fazer esta minha experiência ser assim tão incrível!!!!

E, por fim, serei eu agora mais uma das pessoas do mundo com conselhos prontos (não resisti, rs) advertiria você que quando fosse decidir por um sonho, um grande projeto de vida – ter um filho; mudar de país; inovar no trabalho; fugir de casa etc – que, em segredo, imediatamente tapassem seus ouvidos, olhos e bocas para simplesmente descobrir por si mesmo o caminho a seguir!

Conclusão em fragmentos de auto-ajuda: Não deixe ninguém dizer o que vai ser de você. Escreva a sua própria história e nunca duvide que ela pode ser muito mais extraordinária que todos os contos de vida conhecidos por você!!!!!

Como diz o sábio filósofo e quase político (rsrs) Barack Obama: YES, WE CAN!!!!!!!!!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Estela



Estrela decaída
Do céu para mim
Uma flor tão linda
Quanto a que eu nunca vi
Exatamente aquela
Que faltava em meu jardim: Estela!

Que felicidade te ter assim, filhotinha, exatamente como eu pedi!

Será que você vai se encantar me escutando cantar Toquinho para você “Estrela singular, da luz do amor nascida, antieclipse lunar da minha vida...”, ou vai se encabular com os mitos que eu ainda não decifro? Será que vai ouvir modas caipiras do papai ou vai puxar aquele seu olhinho lindo, para que ao te olhar eu nunca esqueça dele? Será que vai ter os cabelos loiros cacheadinhos meus e fazer o papai lembrar de quando me conheceu?

Minha pequena, mais Toquinho para você:
“Viva cada instante, viva cada momento,
Proteja da razão teu sentimento.
Tente ser feliz enquanto
A tristeza estiver distraída.
Conte comigo
A cada segundo dessa vida.”

domingo, 13 de junho de 2010

Amizade



A minha vida de peregrina é cheia de histórias, mais que isso: é cheia de personagens!

A cigana que existe em mim é a causa certa do meu castigo maior, que é sofrer tanto de saudade. Aquele sentimento pelo qual a gente tanto chora quanto ri, a saudade dos momentos maravilhosos que vivi e da ausência das pessoas incríveis que conheci. E aquela frustração básica dada aos mortais que fatalmente não podem estar presentes em diversos lugares ao mesmo tempo, senão pelo pobre e ainda parco pensamento. E neles eu me vejo, me descubro e me reinvento. Eu me desmancho toda em encantamentos, na alegria infinita de sempre ter tido a minha volta inúmeras pessoas de puros talentos.

A minha paixão pelo ser humano é de todos os meus sentimentos o mais antigo. É uma admiração nata que tenho por cada ser, individualmente. E no infindável universo de possibilidades, eu me permito aprender, admirar e reverenciar as diferentes peculiaridades que cada espírito traz em si, que me desperta sempre o anseio de descobrir e, mais ainda, de compartilhar. E são nessas relações de troca que as amizades se revelam tal como eu nunca sonhei: muito fortes e amavelmente duradouras!

Hoje em nada tem de diferente, sou ainda mais feliz por ter sempre presente, comigo pessoalmente - ou apenas em mente - OS AMIGOS MAIS EXTRAORDINÁRIOS E SURPREENDENTES!!!!

Amo muito vocês!!!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Canção de ninar!



Reza a profecia que uma mulher preparada saberá ser, deveras, uma mãe. Enternecida com tal expectativa, muito embora futura, um encontro inesperado surpreendeu-lhe uma noite de sono sob a constelação astral de segredos até então não revelados, quando adormecia velada por seu Mestre amado. Assim mesmo, ao ar livre... que nos faz sentir mais pertinho do Céu!

- Quando for chegado o momento - disse a mãe à tenra criança - prometo não sobrecarregar o teu ser por infundadas e cruéis expectativas. Eis aqui o tesouro que te reservo por herança: liberdade, lápis e papel!

Emocionada a criança sorriu entre lágrimas, esboçou uma expressão que mesclava profunda gratidão com inexplicável receio. A mãe, contudo, sem permitir que fosse interrompida, continuou a falar como se declamasse um poema àquele pequeno ser:

- Sabe, neste tempo em que está confiado aos guardiões para o preparo de sua futura reencarnação, saiba que sua herança, mesmo antes de sua chegada, começarei a compartilhar contigo. O verdadeiro tesouro que é a liberdade para vir como quiser, puder ou merecer. Não para agradar; antes, para cumprir. Se, por ventura, te for privado de alguma habilidade física, não serei eu a questionar os desígnios divinos que te houvera submetido a tão penosa provação... de minha parte estarei atenta para te suprir as necessidade e te estimular os desafios, no silêncio de nossas dores. Caso seja provado em suas condições mentais, sofrendo qualquer ordem de limitação intelectual, de fato não serei eu a questionar as providencias espirituais que impusera a ti tais medidas expiatórias, no entanto compreenderei que um mistério estará guardado no segredo de nossas impotências.

A criança pareceu um tanto aflita, pois a Terra desconhecida poderia te arrebatar o coração sensível com dolorosas revelações. Fez um olhar triste e amedrontado, ao que a mãe reagiu com um sorriso compreensivo, voltando a declamar:

- Tuas causas, talvez, não sejam as minhas. Ainda assim eu estarei contigo, muito embora não caminharei por ti. Contudo, filhote, se vieres em perfeitas condições, alerta-te desde já minha pequena criança, eis que a vitalidade de todas as habilidades conferidas a tua experiência, física e mental, evidencia muitas expectativas sobre suas realizações - os adultos gostam, ainda, de promover as pressões.

Então a criança modificou suas feições e demonstrou-se confusa, como se sua esperteza precoce houvesse possibilitado a ela identificar uma contradição no mundo dos grandes. A mãe fita-o com seriedade, sem perder a ternura de seu olhar e conclui:

- Não questione as verdades que te revelo, regojize-se por a elas ter prévio acesso. As condições de tuas perfeições físicas e mentais te privam do infortunado escudo estacionário, muito utilizado atualmente na Terra: a desculpa. Não terás, minha doçura, como se desculpar diante da inércia, da vida vazia e sem sentido, tampouco dos desafios que te virão em confronto, para que em atitudes revele teu verdadeiro caráter. E eu, sua mãe, que uma vez que o recebo em meus seios nestas perfeitas condições, mãe consciente da vida eterna que sou, terei a obrigação de educar-te. Não poderei sobrecarregar-te com os mimos compensatórios por uma fatalidade que a sorte te ‘presenteasse’, como estão habilitadas a fazer as mães desmanchadas em compaixões de si mesmas, projetando suas carências nas devoções as suas crias mais que a Deus. Terei antes, pequenino, que te corrigir com rigor e te amar na incompreensão do seu olhar voltado para mim carregado de julgamento. Isto significa que talvez não me compreenderá a dureza das repressões e a maneira enérgica que posso me dirigir a ti, quando ainda estiver em formação do caráter que carregará contigo adiante. Por outro lado, como se aprende na física quântica, não te condicionarei o caminho, mas terei imenso prazer em te mostrar o que rege nossas vidas... este é o teu futuro guardado junto a mim: um universo esplêndido de possibilidades!

- E quando fores... fores para teu caminho cumprir a liberdade de seu destino, eu estarei para ti tal qual o Mestre está para mim: presente no amor, porém não fisicamente! Essa essência te acompanhará como o perfume de uma rosa, para alimentar teus complexos maternos e me aconchegar, por vezes, o ninho vazio.

A esta altura a criança havia percebido que recebera muitas informações e entendeu que a futura mãe já começava a educá-lo e percebeu, ainda, que começara pelo mais precioso dos ensinamentos: a mãe ensinava sobre a contraditória materialização do amor!

“Liberdade, lápis e papel... humm, este é o tesouro que terei por herança” - pensou a criança como quem tenta decifrar um enigma. E foi assim que descobriu que o mundo que a espera só define um destino a ela: possibilidades! No mais, caberá unicamente a ela mesma escrever sua própria história...